Coisas de Luís Fernando Veríssimo
01.
Nunca usei bombacha, não gosto de chimarrão e nem me lembro da última vez que subi num cavalo. Aliás, o cavalo também não gosta.
02.
02.
No Brasil o fundo do poço é apenas uma etapa.
03.
03.
Não vejo vantagem na reencarnação, a não ser que conte tempo para o INPS.
04.
04.
Tempo no Brasil não é dinheiro. É deságio.
05.
05.
Viva todos os dias como se fosse o último. Um dia, você acerta.
06.
06.
Amante é o namorado que leva pijama.
07.
07.
Só acredito no que posso tocar. Não acredito, por exemplo, em Luiza Brunet.
08.
08.
Tu, piniquim. Eu, ropeu.
09.
09.
Sexo oral é muito prático porque pode ser feito, inclusive, pelo telefone.
10.
10.
No Rio, ninguém faz sexo. Ele já vem pronto.
11.
A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final
12.
Sou freudiano de carregar bandeirinha, mais ortodoxo do que o rótulo de Maizena
13.
13.
Toda a mulher deve lutar pelos seus direitos, desde que não interfira nos serviços da casa.
14.
Todo o corpo é um órgão sexual, com exceção, talvez, das clavículas.
14.
Todo o corpo é um órgão sexual, com exceção, talvez, das clavículas.
15.
O gaúcho é o que é porque a bombacha dava espaço. Quando a ocasião é social, uso a de enfeite no lado. Mas nada que brilhe, senão já é bichice. Pra apertar meus fundilhos, só mão de china.
16.
Esse tal de Reich, nem pra catá bosta. Reich, pra mim, é prenúncio de cuspida.
17.
17.
Eles me consideram uma rês desgarrada, porque sou muito radical. Só não me expulsaram ainda porque querem me capar antes.
18.
18.
Não é que eu não gosto da mulher carioca; gosto muito! Mas é sempre da mesma cor. Mulher tem que ir mudando de cor com as estações. Quando chega o verão as gaúchas vão tostando aos poucos, como carne num braseiro de chão, até estar no ponto. Só ficam prontas, mesmo, em fevereiro. A carioca está sempre bem passada. É como comer churrasco em bandeja.
19.
19.
Porta do céu.
Chega um homem, exultante:
— Finalmente, o paraíso.
— Finalmente, o paraíso.
Ele pergunta a São Pedro se há alguma formalidade para entrar. Se precisa assinar alguma coisa. Nada. Ele fica mais exultante ainda:
— Eu sempre sonhei com este momento. Finalmente, estou livre de todas as formalidades. Adeus regulamentos. Adeus burocracia terrestre. Quer dizer que é só entrar e estou na vida eterna para sempre?
— É só entrar — diz São Pedro.
Ele começa a passar pelo portão, mas são Pedro o chama de volta e entrega um cartão plastificado.
— Só não esquece o crachá.
— Eu sempre sonhei com este momento. Finalmente, estou livre de todas as formalidades. Adeus regulamentos. Adeus burocracia terrestre. Quer dizer que é só entrar e estou na vida eterna para sempre?
— É só entrar — diz São Pedro.
Ele começa a passar pelo portão, mas são Pedro o chama de volta e entrega um cartão plastificado.
— Só não esquece o crachá.