Coisas de Ariano Suassuna
01.
Eu sou um péssimo ator. Não sou só o pior ator vivo, eu sou o pior ator vivo e morto.
02.
A massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio. Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um gênio com gosto médio.
03.
A globalização é o novo nome do imperialismo, e o gosto médio é uma peste, é muito pior do que o mau gosto.
04.
Já me disseram que eu quero colocar a cultura brasileira dentro de uma redoma de vidro pra que ela não se contamine, e isso é bobagem. Sou a favor da diversidade cultural brasileira. Só não admito é a influência de uma arte americana de segunda classe.
05.
O Brasil tem uma unidade em sua diversidade. A gente respeita a cultura gaúcha, nordestina, amazônica. O que é ruim é este achatamento cosmopolita. Você liga a televisão e não consegue distinguir se um cantor é alemão, brasileiro ou americano, porque todos cantam e se vestem do mesmo jeito.
06.
Toda arte é local antes de ser regional, mas, se prestar, será contemporânea e universal.
07.
Arte pra mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte pra mim é missão, vocação e festa.
08.
O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom, mesmo, é ser um realista esperançoso.
09.
Não sou nem otimista, nem pessimista. Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista esperançoso. Sou um homem da esperança. Sei que é para um futuro muito longínquo. Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo.
10.
Eu não tenho imaginação, eu copio. Tenho simpatia por mentiroso e doido. Como sou do ramo, identifico mentiroso logo.
11.
Os doidos perderam tudo, menos a razão. Têm uma (razão) particular. Os mentirosos são parecidos com os escritores que, inconformados com a realidade, inventam outras.
12.
Eu tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.
13.
Não troco o meu "oxente" pelo "ok" de ninguém!
14.
Dizem que tudo passa e o tempo duro tudo esfarela. Tudo que é vivo morre.
15.
Não tenho medo da morte. Na minha terra, a morte é mulher e se chama Caetana. E o único jeito de aceitar essa maldita, é pensando que ela é uma mulher linda.
16.
A gente tem uma tendência para acreditar que não morre.
17.
Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, que tudo o que é vivo, morre. (O Auto da Compadecida)
18.
Não sei, só sei que foi assim! (O Auto da Compadecida)
19.
Matar padre dá um azar danado. Sobretudo para o padre.
(O Auto da Compadecida)
20.
O autor que se julga grande escritor, além de antipático é burro, imbecil. Um escritor só pode ser julgado depois da sua morte. Muito tempo depois.
21.
Tem gente que não gosta de adjetivo em texto. Eu confesso que não sei escrever nada sem adjetivo.
22.
Sou um escritor de poucos livros e poucos leitores. Vivo extraviado em meu tempo por acreditar em valores que a maioria julga ultrapassados. Entre esses, o amor, a honra e a beleza que ilumina caminhos da retidão, da superioridade moral, da elevação, da delicadeza, e não da vulgaridade dos sentimentos.
23.
A humanidade se divide em dois grupos, os que concordam comigo e os equivocados.
24.
Que eu não perca a vontade de ter grandes amigos, mesmo sabendo que, com as voltas do mundo, eles acabam indo embora de nossas vidas.
25.
Quando eu morrer, não soltem meu cavalo
nas pedras do meu pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu dorso alardeado,
com a espora de ouro, até matá-lo.
26.
O sonho é que leva a gente pra frente. Se a gente for seguir a razão, fica aquietado, acomodado.
27.
Não sou contra muita coisa que disseram que sou. Já publicaram algo que eu teria dito e aí vieram me dizer: isso que o senhor disse é um absurdo. Aí eu respondo: é um absurdo, mas não fui eu que disse.