Coisas de Diderot
01.
Ter escravos não é nada, o que se torna intolerável é ter escravos e chamá-los de cidadãos.
02.
Aquele que se entretém com os defeitos dos outros, entretém os outros com os seus.
03.
Aquele que fala contigo dos defeitos dos outros, com os outros fala dos teus.
04.
Do fanatismo à barbárie não há mais do que um passo.
05.
A maior infelicidade para um artista é ter um adversário sem talento.
06.
Se a razão é uma dádiva do céu, e se o mesmo pode-se dizer quanto à fé, o céu deu-nos dois presentes incompatíveis e contraditórios.
07.
Se tudo cá na terra fosse excelente, não haveria nada de excelente.
08.
Só precisam de moral e de virtude os que obedecem.
09.
Há muito tempo que o papel de sensato é perigoso entre os doidos.
10.
Faça-se aquilo que se fizer, nunca se perde a honra quando se é rico.
11.
Não lamento os homens, os homens refazem-se; não lamento o ouro destes tesouros, os tesouros voltam a encher-se; mas quem restituirá a estes povos os anos que vão passando?
12.
A cólera prejudica o sossego da vida e a saúde do corpo, ofusca o julgamento e cega a razão.
13.
Aquele que analisou a si mesmo, está bastante adiantado no conhecimento dos outros.
14.
Perguntaram um dia a alguém se havia ateus verdadeiros. Você acredita, respondeu ele, que haja cristãos verdadeiros?
15.
Uma palavra grosseira, uma expressão bizarra, ensinou-me por vezes mais do que dez belas frases.
16.
A infidelidade é, na mulher, o que é no padre a incredulidade — a última baliza das prevaricações humanas.
16.
De todos os sentidos, a vista é o mais superficial, o ouvido o mais orgulhoso, o olfato o mais voluptuoso, o gosto o mais supersticioso e inconstante, o tacto o mais profundo.
17.
A razão sem paixões seria quase um rei sem súditos.
18.
Os meus pensamentos são a minha perdição.
19.
Não existe nada tão raro como um homem inteiramente mau, a não ser talvez um homem inteiramente bom.
20.
O que nunca foi posto em questão, nunca foi provado.
21.
Cospe-se num bandido menor, mas não se pode recusar alguma consideração a um grande criminoso.
22.
Tudo se destroi, tudo perece, tudo passa; só o mundo é que fica. Só o tempo é que dura.
23.
Não se é sempre estúpido por havê-lo sido várias vezes.
24.
Se, quando somos ricos, temos tudo, qual o interesse em termos mérito e virtude?
25.
É tão arriscado acreditar em tudo como não acreditar em nada.
26.
As mulheres engolem a grandes sorvos a mentira que as lisonjeia e bebem gota a gota uma verdade que lhes amarga.
27.
O luxo arruína o rico e aumenta a miséria do pobre.
28.
O mau evita a solidão, o justo procura-a. Encontra-se tão bem consigo mesmo!
29.
Os libertinos são aranhas repugnantes que às vezes apanham lindas borboletas.
30.
A criança como o homem, e o homem como a criança, preferem divertir-se a instruir-se.
31.
A sabedoria não é outra coisa senão a ciência da felicidade.
32.
Clama-se incessantemente contra as paixões; imputam-se-lhes todos os males do homem, esquecendo que elas são também a fonte de todos os seus prazeres.
33.
Abalar a nação para consolidar o trono; saber suscitar uma guerra; foi o conselho de Alcibíades a Péricles.
34.
A voz da consciência e da honra é bem fraca quando as tripas gritam.
35.
Devem exigir que eu procure a verdade, não que a encontre.
36.
A superstição ofende mais a Deus do que o ateísmo.
37.
Quando o padre apoia uma inovação, ela é má; quando se lhe opõe, ela é boa.
38.
O mundo somente será livre no dia em que o último padre for enforcado nas tripas do último general.
39.
A imortalidade é uma espécie de vida que adquirimos na memória dos homens.
40.
As ideias que aprazem a toda a gente, são para mim detestáveis.
41.
A paixão quer que tudo seja eterno, mas a natureza impõe que tudo acabe.
42.
Ao que quer que seja que o homem se dedique, a natureza a isso o predestinava.
43.
Não se retém quase nada sem o auxílio das palavras, e as palavras quase nunca bastam para transmitir precisamente o que se sente.
44.
Nenhum homem recebeu da natureza o direito de mandar nos outros.
45.
O que é a virtude? É, seja qual o aspecto pela qual a encaremos, um sacrifício de nós próprios.
46.
Nem que seja para fazer alfinetes, o entusiasmo é indispensável para sermos bons no nosso ofício.
47.
Não sei o que são princípios, a menos que se tratem de regras que prescrevemos aos outros para nosso proveito.
48.
Em matéria de moda, são os loucos que ditam a lei aos sensatos, as cortesãs que a impõem às mulheres honestas, e o melhor que temos a fazer é respeitá-la.
49.
Só Deus e alguns génios raros continuam a avançar pelo campo da novidade.
Denis Diderot (Langres, 5 de outubro de 1713 — Paris, 31 de julho de1784)
Filósofo e escritor francês.
Um dos primeiros autores que fazem da literatura um ofício, sem esquecer, em momento algum, que era um filósofo.
Preocupava-se sempre com a natureza do homem, sua condição, seus problemas morais e o sentido do destino. Admirador entusiasta da vida em todas as suas manifestações, Diderot não reduziu a moral e a estética à fisiologia, mas situou-as num contexto humano total, tanto emocional como racional. É considerado por muitos, um precursor da filosofia anarquista.